Por: Profa. Esp. Guilherme Carvalho
Sou professor no mesmo colégio que me formei, há 12 anos atrás e trabalho com alguns dos professores que me deram aula. Antigamente, achava que isso de “nunca virar a página” era uma fraqueza enorme, mas com o tempo eu aprendi que essa coisa "romântica" que está em mim é o que me move pra tentar ser mais e viver as coisas que amo com o máximo de envolvimento e paixão.
Ao refletir sobre o assunto professores, educação e pandemia, acredito que o papel do professor num cenário de crise esbarra em uma série de questões sobre a organização escolar, a relação entre os professores e alunos na construção do processo de aprendizagem, o papel de transformação social do professor e a natureza da escola.
O primeiro ponto que podemos elencar é a situação da pandemia no Brasil e os diversos recortes que nós temos tido acesso nesse primeiro mês de medidas de distanciamento social e isolamento. Pensando somente na cidade de São Paulo podemos perceber de maneira empírica que, enquanto existem pessoas seguindo as recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde) e da Secretaria de Saúde do Estado e evitando ao máximo sair, temos uma parcela da população que é impossibilitada de seguir quaisquer recomendações quando as prioridades são as situações emergenciais de todos os dias.
É o que acontece na periferia que segue sem conseguir realizar quarentena, distante do poder do Estado, mas, com as escolas e creches fechadas. Essa disparidade entre a normalidade só evidencia a ausência de políticas públicas na periferia.
A escola nesse ponto, oferecendo as aulas de maneira online (com diferenças nas estratégias entre rede pública e privada, mas essencialmente, antecipando recessos e oferecendo na modalidade remota) revela como é essencialmente um espaço de suspensão da vida cotidiana, como apontado em uns dos artigos do brilhante “Elogio da Escola”, de organização de Jorge Larrosa.
A escola segue, preparando não para o agora, mas para a vida que virá com ou sem Covid-19, suspendendo a realidade e criando condições para que possa se manter minimamente os processos de crescimento previstos pelos nossos documentos de organização curricular, se importando pouco com a forma com qual esse processo acontece nos universos individuais dos alunos.
O professor surge como agente e mediador, representando não só a manifestação da atuação da instituição escola, como a vontade de se manter uma organização dentro de um momento de instabilidade e fomentar individualmente para que os processos de formação não se percam na vontade institucional mas, sim se materializem no processo de aprendizagem e descoberta que a ausência da estrutura formal da escola possibilitam e na compensação das deficiências (estruturais, sociais, psicológicas) que a falta da estrutura formal da escola vão causar nesses nossos jovens.
De forma semelhante, na educação profissional, pensamos não no mercado de trabalho hoje, fragilizado e paralisado por conta da incerteza econômica, mas sim em viabilizar a retomada da autonomia financeira e da manutenção do processo de qualificação profissional frente à crise e na motivação frente à incerteza.
É um momento de ser forte, de discutir com os pares sobre a real importância da educação no desenvolvimento integral dos indivíduos que compõem a nossa sociedade e de, principalmente, se reinventar.
Elaborado por:
Professor Guilherme de Carvalho formou-se Tecnólogo em Jogos Digitais pela Fatec, de São Caetano do Sul, onde vocacionou seus interesses por tecnologia, desenvolvimento e ludicidade em paixão pela escola.
Hoje, leciona nos cursos técnicos de Desenvolvimento de Sistemas e Redes de Computadores.
Leitura crítica e edição: Joseane Terto
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