Planejar num mundo de incertezas

Por: Profa. Dra. Valéria Batista

O ano letivo começou e por conta da pandemia, estamos diante de várias incertezas, como: 1) se as aulas serão presenciais ou on-line; 2) se iniciamos o livro didático ou realizamos uma revisão dos conteúdos, 3) se as crianças estão bem psicologicamente ou não, enfim uma série de questões que nos deixam bastante inseguros.

Por isso, a importância do planejamento. Para que possamos nortear as ações do ano que se inicia e este momento deve ocorrer por meio das trocas entre especialistas, gestores, coordenadores pedagógicos, professores e, também os representantes da comunidade escolar.

Se planejar é organizar ações, devemos ter intencionalidade e definir nossos objetivos. Quando falo em objetivos, me lembro de uma passagem do livro de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, que narra uma cena em que a Alice está em busca do coelho que fugiu com o relógio. E, de repente se depara com um grande gato no alto de uma árvore e pergunta-lhe:

-- Você pode me ajudar? Ele diz: -- Sim, pois não. -- Para onde vai essa estrada?, pergunta ela. Ele responde com outra pergunta: -- Para onde você quer ir? Ela diz: -- Eu não sei, estou perdida. Ele, então, lhe diz assim: -- Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve.

Pois bem, você sabe para onde você quer ir? Você sabe quais são os conhecimentos que deverá ensinar aos seus alunos? Você sabe, quais são os conhecimentos prévios dos seus alunos a respeito desses conteúdos?

Portanto, antes de obter respostas prontas, faça estas questões para você, enquanto professor e busque as respostas nos lugares adequados.

Busque saber em seu íntimo, quem você quer formar? Para qual sociedade você quer formar? Busque nos documentos oficiais do seu município e na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) quais sãos as expectativas de aprendizagem e habilidades que seus alunos devem alcançar e obter.

Busque por meio de avaliações diagnósticas (são vários os modelos) que aplicadas aos seus alunos e assim poderão descobrir o que eles já sabem  sobre os conteúdos que serão trabalhados e o que lhes falta saber.

Desta forma, terá condições de realizar um planejamento adequado, real e que esteja atendendo as necessidades verdadeiras dos seus alunos, não esquecendo que o ensino envolve os quatro pilares da Educação: 1) saber ser, 2) saber conhecer, 3) saber fazer e 4) saber conviver.

Portanto, atente o seu olhar para as questões emocionais, neste momento em que todos nós e, principalmente nossas crianças se encontram tão frágeis emocionalmente.

E, diante da questão do olhar, me vem à mente mais um texto, de Rubem Alves, O olhar do professor, que diz: “ [...] Nietzsche disse que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. É a primeira tarefa porque é através dos olhos que as crianças, pela primeira vez, tomam contato com a beleza e o fascínio do mundo. Os olhos têm que ser educados para que a nossa alegria aumente. [...]

Professor: trate de prestar atenção ao seu olhar. Ele é mais importante que os seus planos de aula. O olhar tem o poder de despertar ou, pelo contrário, de intimidar a inteligência. O seu olhar tem um poder mágico!

Lembre-se fazemos o planejamento para conseguir ser o melhor que pudermos ser para nossas crianças, para nossos alunos, não planejamos para cumprir tarefas burocráticas ou prazos, planejamentos para tornar nossos alunos cidadãos e melhores consigo mesmos, com o mundo e com o outro.

Não podemos perder o propósito da Educação, do nosso fazer pedagógico e por isso, que devemos definir nossos objetivos educacionais e termos a justificativa para além das questões administrativas e sermos impulsionados para a práxis do fazer pedagógico.

Quem não sabe para onde quer ir, qualquer caminho serve!

Para onde você quer ir?

Eis, o sentido e o significado do verdadeiro papel do planejamento.

Elaborado por:

Profa. Valéria, doutora em Educação pela PUC-SP. Diretora Pedagógica na Apliqueducação onde cria e desenvolve jogos de alfabetização baseados em evidências de pesquisa por conta de sua longa e sólida experiência em sala de aula no Ensino Fundamental, incluindo o trabalho de com alunos da Educação Especial.

Leitura crítica e edição: Joseane Terto