Por: Profa. Esp. Kelly Cristina
Dislexia é um transtorno específico da aprendizagem de origem neurobiológica. Podendo apresentar problemas de: lateralidade, organização espacial, organização temporal, atraso na linguagem, prejuízos na escrita/gramática e distúrbios afetivos.
Geralmente, este transtorno é de ordem genética e hereditária.
O cérebro humano nasce pronto para compreender e reproduzir os fonemas, ou seja, temos uma habilidade nata de fala, mas o processo é inverso com a leitura e escrita, pois essa invenção humana exige que determinadas áreas corticais sejam desenvolvidas para realizar esse processo.
As neurociências investiga o porquê que em alguns indivíduos essas áreas não são ativadas no processo de leitura, estudos sugerem que alguns neurônios ainda em fase intrauterina não migram para algumas áreas responsáveis pela leitura, deixando um "gap" que prejudica diretamente a aquisição desta habilidade.
Para a realização da leitura o cérebro desenvolve circuitos neuronais que se encontram na região frontal (área de BROCA – responsável pela fala), na junção temporo-parietal (área de WERNICKE – responsável pela compreensão) e na junção occipito-temporal (área da forma visual das palavras – responsável pela leitura global da palavra).
Tendo em vista que a leitura exija muitas competências, o melhor indicador para o aprendizado da leitura é a habilidade que a criança tem para com os fonemas (sons).
Desta forma, é importante que o professor alfabetizador auxilie a criança que apresenta a dislexia do desenvolvimento, primeiramente compreendendo que o seu aluno demanda um grande esforço para um resultado mínimo e/ou abaixo do esperado.
É importante que o aluno disléxico receba uma maior atenção em sala de aula principalmente no momento da explicação dos conteúdos.
Explicações curtas e seguidas de exemplos práticos auxiliam o processo de aprendizagem.
Repetir algumas vezes a mesma informação de formas diferentes também auxilia o aluno com dislexia, pois como o cérebro do disléxico utiliza de caminhos neuronais diferentes dos padrões, cabe a interpretação da informação ser o fio condutor para guiar o aprendizado.
Muitas vezes a interpretação não é a esperada, por isso uma resposta fora do padrão tende a aparecer.
A dislexia não impede o aprendizado, porém o gasto energético exigido pelos mecanismos cerebrais são mais intensos e com resultados menores. Alguns estudos apontam que o cérebro do disléxico não utiliza a área responsável pela forma da palavra, ou seja, esta é a área que faz uma leitura global, geralmente a palavra vem como uma imagem e a leitura acontece de forma fluida.
Nos disléxicos os exames de neuroimagem apontam que a área da fala e da compreensão é ativada constantemente, levando a conclusão de que a leitura acontece de fonema em fonema demandando um tempo maior para uma leitura e uma falha na compreensão.
Quando lemos uma frase a nossa memória de trabalho registra o significado da palavra que lemos, e não necessariamente palavra por palavra, isto faz com que ao final de uma frase possamos ser capazes de compreender o que acabamos de ler.
Podemos citar como exemplo a frase: A ROUPA DE ANA É AMARELA, nosso cérebro traz informações de várias áreas nos dando sentido ao que lemos:
Todos estes processos irão depender do conhecimento prévio de cada pessoa.
No disléxico esse processo é defasado o cérebro ativa áreas de leitura de fonema a fonema, isto quer dizer que ao ler a frase: A ROUPA DE ANA É AMARELA a leitura se torna morosa pela falha na compreensão do que se lê, um disléxico leria mais ou menos assim:
A R O U P A D E A N A É A M A R E L A
Quando decodificamos fonema a fonema não compreendemos a palavra, isso leva a um outro processo que é unir os fonemas e formar as sílabas, depois unir as sílabas e formar as palavras para só então ler as palavras e formar uma frase e por último dar significado a cada palavra da frase.
Percebam o quanto o cérebro de um disléxico trabalha a mais do que um cérebro neurotípico, porém os resultados do disléxico são sempre inferiores.
A dislexia é padrão, mas o processo de aquisição de leitura e escrita de cada disléxico é único, não existe receitas mágicas que solucionam as dificuldades dos disléxicos, mas existem abordagens que auxiliam neste processo.
Segue abaixo algumas abordagens que podem contribuir com o processo de leitura e escrita da pessoa com dislexia:
1) Acolhimento da pessoa e valorização dos resultados, mesmo que estes sejam mínimos;
2) Leitura em voz alta pelo professor e/ou colega com leitura fluida;
3) Método fônico na alfabetização auxilia a leitura e escrita pela fonoarticulação dos fonemas;
4) Gravar a aula sempre que possível;
5) Gravar as explicações e comandas para a realização das tarefas de casa;
6) Apoio de imagens para exemplificar os conteúdos;
7) Provas orais e individuais em ambiente silencioso;
8) Tempo maior para execução das tarefas escritas;
9) Compreensão das falhas ortográficas com apontamentos da escrita correta, sem diminuir a nota;
10) Apoio emocional.
Independentemente de quais forem as diversidades ou dificuldades nos processos de desenvolvimento e aprendizagem, uma abordagem terapêutica faz-se necessária. Pois, intervenções pontuais voltadas as peculiaridades de cada indivíduo objetivam auxiliar o processo de ensino-aprendizagem, visando impulsionar o pleno desenvolvimento.
Elaborado por:
Professora Kelly Cristina, Pedagoga, Psicopedagoga Clínica e Institucional, Especialista em Neuroaprendizagem, Neuropsicóloga formada CDN-UNIFESP. Faz parte da equipe diretiva pedagógica da ApliquEducação.
Acredita que a Educação e a Neurociência devem caminhar juntas, o bem-estar favorece a aprendizagem e por meio dos jogos pedagógicos essa união acontece de forma prazerosa e eficaz!
Leitura crítica e edição: Joseane Terto
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